Sobre:
O Ecofeminismo originou-se dos movimentos sociais feminista, pacifista e ambientalista (ou ecologia) no final da década de 1970 (popularmente conhecida como “a segunda onda” do feminismo).O Ecofeminismo sugere um convívio social com complementação e nunca exploração, sem os conceitos de dominante e dominado, evidencia a relação entre a dominação da natureza com as dominações por raça, gênero ou classe social pelo poder patriarcal, e busca o fim de todos os tipos de opressão.
Desta forma, os ecofeministas acreditam que tanto a exploração como a submissão da mulher estão fundamentadas na mesma razão proveniente à exploração da natureza e de outros povos. Assim como o meio ambiente, as mulheres são consideradas pelo capitalismo patriarcal como meio de produção ou exploração, que devem ser submetidas às supostas necessidades humanas.
Esse mesmo capitalismo apresenta intolerância diante de outros seres, espécies ou culturas que julga subordinados ao seu poder, sentindo-se no direito de dominá-los, tal qual ocorre com o meio ambiente e com a mulher.
O ecofeminismo pode ser considerado mais como uma corrente de mulheres que trabalham no movimento ambientalista, do que propriamente parte do movimento feminista (uma vez que esse não compartilha, exatamente, a tese da natureza enquanto “princípio feminino”).
História:
O termo Ecofeminismo foi originalmente utilizado pela francesa Françoise d´Eaubonne[1] em 1974 e simboliza a união do pacifismo, ambientalismo (ecologia) e feminismo, atuando inicialmente contra a construção de usinas nucleares, e posteriormente aplicado ao Movimento Chipko (Índia). Também sofreu influência dos movimentos antimilitaristas e antinucleares que eclodiram na Europa e Estados Unidos na década de 60.
O ecofeminismo apresenta em comum com os movimentos citados a idéia de descentralização (não-hierarquização), apoio ao desenvolvimento sustentável, busca de tecnologias não-agressivas ao meio ambiente e a superação da dominação patriarcal sobre os gêneros.
Iniciando com o ativismo ambiental de mulheres, na segurança ambiental e defesa da saúde, essa corrente ambientalista do feminismo firmou-se como corrente específica após o encontro promovido pelas Nações Unidas no Rio de Janeiro, em 1992, com a liderança de Petra Kelly.
Nesse evento, os debates entre o movimento das mulheres e o ambientalista relevaram tanto a importância do meio ambiente para a saúde física e mental dos seres, quanto a importância do despertar da cidadania feminina e a conscientização de seus direitos.
Dentre o ecofeminismo existem diversas correntes, desde as mais socialistas, até as mais liberais.Há também vertentes espiritualistas e esotéricas, e programas sócio-ambientais que compartilham os princípios ecofeministas, embora às vezes sua organização não se define como tal. Um exemplo de movimento ecofeminista internacional é o Woman´s Environment and Development Organization (WEDO), e nacional, a Rede de Defesa da Espécie Humana (REDEH) e Rede Mulher de Educação (RME).
[1] Mulher, francesa e feminista, deu origem ao ecofeminismo com seu trabalho “Le feminisme ou la mort” (“O feminismo ou a morte”).
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Tendências:
O ecofeminismo pode ser dividido em três tendências:
1. Ecofeminismo clássico, na qual o feminismo denuncia a naturalização feminina como meio de justificar o patriarcado. Segundo esta tendência, a busca masculina pelo poder tem levado o mundo a guerras e à destruição do planeta e a ética feminina de proteção da vida se opõe à essência agressiva dos homens. Assim, as mulheres seriam pré-dispostas ao pacifismo e à conservação ambiental, e os homens teriam tendências à competição e à destruição;
2. Ecofeminismo espiritualista do Terceiro Mundo, originado nos países do sul, sofreu influência dos princípios religiosos de Ghandi [1] (Ásia) e da Teologia da Libertação [2] (América Latina). Atribui à cosmologia a naturalização da mulher, e afirma que o desenvolvimento da sociedade ocasiona a violência contra as mulheres e o meio ambiente, pela dominação e centralização do poder patriarcal. Caracteriza-se pela postura crítica contra as formas de dominação, tais como antisexista, antiracista, antielitista e anti-antropocêntrica;
3. Ecofeminismo construtivista, que defende que a relação da mulher com a natureza é originária de suas responsabilidades atribuídas. Embora compartilhe idéias contra as formas de dominação, não se identifica nem com o essencialismo nem com as fontes religiosas espirituais anteriormente citadas. Defende a necessidade de assumir novas práticas de relação de sexo e com a natureza.
Usualmente é associado ao nome “ecofeminismo” apenas a primeira tendência (clássica) e a teoria construtivista e as últimas tendências são pouco conhecidas.
As 3 tendências, embora distintas, apresentam os mesmos cuidados com o meio ambiente e com a vida e defendem o fim das formas de opressão à feminilidade. O ecofeminismo é um movimento plural e global com uma crescente comunidade de ativistas e teóricos.
[1] Princípios filosóficos não sangrentos, porém eficientes, inspirando os hindus para que mantivessem uma união disciplinada e conclamou a Humanidade para uma reflexão em que a bondade deve recair sobre bons e maus. Com fortes raízes espiritualistas, justificou plenamente a filosofia pacifista que empregou na sua missão. Conhecedor da imortalidade da alma e da pluralidade das existências, Gandhi foi à luta, consciente de que toda boa colheita só obtém êxito em campo lavrado.
[2] Fonte de reflexão teológica que impulsionou processos de renovação, modificando visões de mundo. Passou a ser um marco referencial para outros grupos que se consideram oprimidos: os cristãos pobres da África e da Ásia, as minorias discriminadas nos Estados Unidos (negros e hispanos) e os diversos movimentos feministas.
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Importância:
O ecofeminismo contribui, seja pela sua visão teórica, seja pela prática das suas integrantes, na reflexão sobre a nossa responsabilidade como habitantes do planeta de assumir um novo paradigma, mais sustentável e equilibrado do ponto de vista ambiental.
Um exemplo da prática ecofeminista ocorreu no início do movimento, na qual um grupo de mulheres do norte da Índia protegeu mais de 25.900 km2 de bacia hidrográfica de uma floresta do Himalaia, uma vez que o desflorestamento de florestas causava deslizamentos de terras, inundações e erosão de solo. Conhecido como o Movimento Chipko, (palavra hindi que significa “agarrar”), recebeu este nome pela prática das manifestantes de impedir a derrubada de árvores fixando seus braços em volta do tronco (prática conhecida como “abraço na árvore”).
Alguns anos mais tarde um movimento ecofeminista no Quênia, Green Belt , iniciou a plantação de árvores para prevenir a falta de água local, os efeitos da erosão e os desafios causados pelo desflorestamento local. Metz afirma que “Como as mulheres da Índia, as mulheres do Movimento Green Belt reconheceram que protegendo e repovoando seu ambiente natural, elas estariam também estabelecendo os fundamentos na direção do desenvolvimento econômico equitativo”.
Como um meio de incorporar a visão feminina acerca dos problemas ambientais, o ecofeminismo por si só já contribui significativamente para o meio ambiente, uma vez que acrescenta idéias inovadoras, chamando a atenção para aspectos antes desconsiderados. Ao adicionar valor ao que não é considerado “economicamente relevante”, tal como qualidade de vida, cultura, valores; permite questionar novas visões de desenvolvimento. Segundo Emma Siliprandi, “O debate ecofeminista enfatiza o efeito das construções ideológicas nas relações de gêneros e nas formas de ação em relação ao meio ambiente”.
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